sábado, 28 de outubro de 2006

Paitio.

Dia desses um amigo se tornou pai. Conversando com ele eu falava da necessidade do homem ser, verdadeiramente, um pai ao lado do seu filho e não um "tio" como muitos pais são: mal participam do desenvolvimento do seu filho durante a semana, a pretexto de estarem cansados, só saem e brincam com os filhos no final de semana quando batem uma bolinha com eles na pracinha ou vão ao shopping passear.
Felizmente tive a oportunidade de ser um pai completo para meus filhos, desde que nasceram eu faço tudo por eles e com eles, quando nenês trocava fralda, fazia e dava mamadeira, colocava para dormir, dava banho, escolhia e trocava de roupa, levava à pediatra, para vacinar, cortava as unhas, acordava de madrugada para ver se estavam bem pois a esposa tem um sono pesado, media a febre e medicava durante a madrugada, entre outras diversas atividades que me aproximam dos meus filhos de modo a eu ser, provavelmente, a pessoa que os melhor conheça.
Fiz tudo isso porque sou assim, entendo que ser pai é vivenciar cada momento do seu filho sem frescuras, não que a minha esposa fosse ausente ou omissa, eu é que abri meu espaço ao lado dela nos cuidados aos filhos participando ativamente do dia a dia deles desde o nascimento.
Por tudo isso me sinto um pai responsável e participante da vida de meus filhos, ciente de que dei, até hoje, o que pude para contribuir com o crescimento deles, o que reforça o amor que sinto por eles e, provavelmente, o amor que sentem por mim.

domingo, 22 de outubro de 2006

Quatro e Um.

Cheguei a um ponto em minha vida que o futuro e o passado estão equilibrados nos meus pensamentos, antes, eu pensava mais no futuro, o meu passado era pouco significativo, não tinha muitas histórias para relembrar e o futuro era mais questionador para mim. Agora, mudou, há um equilíbrio entre os dois tempos.
Me pego pensando no passado, freqüentemente, relembrando histórias boas, outras ruins e algumas hilárias de dar gargalhadas. Às vezes penso naqueles que não estão mais aqui, mas que me foram importantes, ou em outros que passaram pela minha vida e deixaram marcas saudosas, de certa forma já tenho uma razoável bagagem e, por vezes, ajudo quem é mais jovem a ver a vida e o mundo de uma forma um pouco diferente, com um viés mais experiente.
Quando me olho no espelho vejo algumas rugas, não tanto quanto outras pessoas da minha idade, talvez as rugas não sejam muitas em meu rosto porque levo a vida de um jeito leve, encaro-a positivamente e costumo me relacionar com o lado bom das pessoas, o que deve ter me levado a pouco desgaste interno ao longo destes anos.
Me sinto equilibrado nesta época da minha vida, menos ansioso e impetuoso como era na juventude, mais sereno, confiante e ciente de onde estou no mundo e na vida daqueles que de mim gostam e que eu também gosto. Finalmente, uma época onde posso curtir a vida sem pensamentos e cobranças internas desgastantes. Mas estas vantagens acima tiveram um preço, fisicamente não sou mais o que eu era, na hora de ver algo pequeno bate a "Síndrome do Braço Curto" e tenho que afastar o objeto dos olhos, alguns cabelos brancos apareceram e, também, me sinto cansado ao final da noite, coisas que antes não aconteciam, um preço justo que o tempo cobra e que tenho prazer em pagar.

sábado, 21 de outubro de 2006

Eu, Filosofia & Religião.

Na minha juventude eu sentia necessidade de ler, aprender e debater sobre filosofia, religião e outros assuntos abstratos. Lembro de, na faculdade, puxar conversa com professores destas áreas, ler na biblioteca sobre esses assuntos e trocar muita idéia com os amigos mais próximos, era uma fome que eu precisava saciar. Com o pouco que li e conversei formei os meus conceitos sobre os dois assuntos que permanecem comigo até hoje.
Sobre religião: fui batizado na Igreja Católica e fiz a Primeira Comunhão, meu colégio era católico e a faculade, também, tive formação católica durante todo o meu período letivo, porém, como nunca freqüentei a Igreja, não posso ser chamado de católico só porque cumpri com esses dois rituais e freqüentei essas escolas. Tenho a minha própria forma de acreditar e entender a religião, não gosto da parte da religião que é feita e mantida pelos homens, que diz o que pensar, como se comportar, como se vestir e, sim, daquela parte mítica, sábia e engrandecedora do espírito que está escrita nos livros e permeia os espíritos mais evoluídos, para mim essa é a verdadeira religião por ser um contato direto com o Absoluto.
Sobre filosofia: comecei a formar meu substrato filosófico desde cedo, vendo, observando e comparando as diferentes filosofias que tive contato nos livros e através das grandes pessoas que passaram pela minha vida. Acredito em conceitos e valores como Vida, Amor, Liberdade, Igualdade, Livre Arbítrio, Responsabilidade entre outros. Interessante observar que à medida que eu envelhecia a fome por assuntos abstratos como religião e filosofia diminuía, hoje, não sinto nenhuma necessidade de pensar e discutir esses assuntos, é como se a lacuna que existia em mim tivesse sido preenchida com o que eu apreendi e me dou por satisfeito com as respostas que obtive, sei que muitas destas respostas não são definitivas e algumas delas são provocadoras de outras perguntas, mas, por enquanto, está bom, até que haja uma mudança significativa na minha vida que me faça rever os conceitos que tenho sobre filosofia e religião.

sábado, 14 de outubro de 2006

Na Cama, Onde Se Come A Carne.

Estava sentado à minha mesa de trabalho quando ela se aproximou com um documento à mão para me pedir uma explicação, ao chegar perto de mim ela se inclinou, tocou o seu seio no meu ombro e o deixou ali, enquanto conversava...
Por causa do toque minha visão e audição imediatamente distorceram, minimizaram e, por fim, pifaram, apesar das minhas tentativas de fazê-las voltarem a funcionar e restabelecerem o contato com a realidade.
Eu estava refém de um seio, grande, macio e quente como uma brasa que queimava meu braço e avermelhava meu rosto, me deixava incomunicável e cego. As tentativas corporais de enrijecimento da atenção não deram em nada, pelo visto funcionaram, mas em outra parte do meu corpo que não no cérebro, e o seio continuava, maliciosamente, a ser esfregado no meu ombro como que comandado pelo sorriso enigmático de sua dona.
Como eu não enxergava o documento e nem ouvia mais nada que ela dizia, me rendi ao surto erótico que fui tomado e desisti de contatar a realidade, me entreguei, lânguidamente, aquele toque erótico que me colocava em nuvens de desejos calientes.
Desperta o rádio relógio ao som de "Moonlight Serenade", o mostrador dele, um carrasco de personalidade sádica aponta 5h e 45min da manhã.
Eu desperto com a sensação de que será um dia de trabalho interessante, principalmente quando eu não puder mais contatar com a realidade...

quinta-feira, 12 de outubro de 2006

A Fada Das Lágrimas.

Período do futuro da Humanidade, toda a civilização da Terra sofre transformações culturais, sociais e antropológicas profundas. Experimenta uma invasão maçica da tecnologia que se intromete no dia-a-dia das pessoas, nos seus lares, locais de trabalho, escolas, na rua, nas estradas, no campo, trazendo para elas a frieza e a superficialidade nas relações humanas, o imediatismo para a realização de todos os desejos, o amor interesseiro e fugaz, a ditadura do dinheiro que reveste o rico de valor sobre humano e faz do pobre não humano.
O Homem se coisifica e as máquinas se humanizam, tomando o lugar do ser humano em qualquer tarefa que possa acarretar um mínimo de sofrimento físico ou psicológico.
O Homem não sofre mais, não experimenta emoções extremas, prefere o comodismo do não sentir a ter que vivenciar as emoções ancestrais que nesse novo tempo não têm mais lugar pois são consideradas um fardo por que atrapalham o espírito hedonista da nova sociedade. Por conta disso os Homens começaram a parar de chorar, já que o sofrimento físico ou psicológico era minimizado ou inexistente, o choro ficara reservado às crianças por causa do instinto, mas que logo que cresciam eram desestimuladas a chorar, também pudera, todos os seus desejos eram saciados fosse de uma forma real ou virtual. Até que os seres humanos não chorassem mais, desaprenderam, pois não mais se sentiam tristes ou saudosos ou dolorosos em sua alma.
A Terra ficou mais triste, apesar dos Homens viverem alegres em sua sociedade artificialmente feliz, pelo menos a Terra podia chorar através da chuva. O Homem não. Foi quando deu-se a transformação.
O Espírito Humano que habitava a Terra desde que o homem surgiu estava agonizando, prestes a ser extinto, sufocado pelo Espírito Hedonista que reinava na Terra. Este Espírito Humano, secular, agrupou suas últimas forças e criou a Fada Das Lágrimas, um ser feminino, de roupas vaporizadas, hora transparentes, hora translúcidas, que vivia em nuvens brancas, pequenas e exaustas depois de dias de tanto derramar sobre a Terra em forma de chuva o choro do Espírito Humano.
A Fada descia para a superfície da Terra para ensinar os homens a chorar, ela aparecia do nada, não importava onde a pessoa estivesse, e nas horas mais inesperadas, no lar, no trabalho, na escola, onde quer que fosse, quem tivesse a sorte de receber uma visita da fada logo percebia a presença dela, sentia-se no ar um aroma de terra molhada pela chuva, logo depois tinha a sua mente invadida pela lembrança de todas as pessoas que se desdobraram para que ela tivesse nascido e que se sacrificaram para ela estar viva ali.
Em um instante seus olhos refletiam o azul do céu e se formava, na superfície dos olhos, pequenas e imperceptíveis nuvens brancas que condensavam e faziam verter lágrimas feitas de pura água que escorriam pela face dos homens em forma de gotas refletindo o céu azul, o mesmo céu que os olhos refletiam.