quinta-feira, 12 de outubro de 2006

A Fada Das Lágrimas.

Período do futuro da Humanidade, toda a civilização da Terra sofre transformações culturais, sociais e antropológicas profundas. Experimenta uma invasão maçica da tecnologia que se intromete no dia-a-dia das pessoas, nos seus lares, locais de trabalho, escolas, na rua, nas estradas, no campo, trazendo para elas a frieza e a superficialidade nas relações humanas, o imediatismo para a realização de todos os desejos, o amor interesseiro e fugaz, a ditadura do dinheiro que reveste o rico de valor sobre humano e faz do pobre não humano.
O Homem se coisifica e as máquinas se humanizam, tomando o lugar do ser humano em qualquer tarefa que possa acarretar um mínimo de sofrimento físico ou psicológico.
O Homem não sofre mais, não experimenta emoções extremas, prefere o comodismo do não sentir a ter que vivenciar as emoções ancestrais que nesse novo tempo não têm mais lugar pois são consideradas um fardo por que atrapalham o espírito hedonista da nova sociedade. Por conta disso os Homens começaram a parar de chorar, já que o sofrimento físico ou psicológico era minimizado ou inexistente, o choro ficara reservado às crianças por causa do instinto, mas que logo que cresciam eram desestimuladas a chorar, também pudera, todos os seus desejos eram saciados fosse de uma forma real ou virtual. Até que os seres humanos não chorassem mais, desaprenderam, pois não mais se sentiam tristes ou saudosos ou dolorosos em sua alma.
A Terra ficou mais triste, apesar dos Homens viverem alegres em sua sociedade artificialmente feliz, pelo menos a Terra podia chorar através da chuva. O Homem não. Foi quando deu-se a transformação.
O Espírito Humano que habitava a Terra desde que o homem surgiu estava agonizando, prestes a ser extinto, sufocado pelo Espírito Hedonista que reinava na Terra. Este Espírito Humano, secular, agrupou suas últimas forças e criou a Fada Das Lágrimas, um ser feminino, de roupas vaporizadas, hora transparentes, hora translúcidas, que vivia em nuvens brancas, pequenas e exaustas depois de dias de tanto derramar sobre a Terra em forma de chuva o choro do Espírito Humano.
A Fada descia para a superfície da Terra para ensinar os homens a chorar, ela aparecia do nada, não importava onde a pessoa estivesse, e nas horas mais inesperadas, no lar, no trabalho, na escola, onde quer que fosse, quem tivesse a sorte de receber uma visita da fada logo percebia a presença dela, sentia-se no ar um aroma de terra molhada pela chuva, logo depois tinha a sua mente invadida pela lembrança de todas as pessoas que se desdobraram para que ela tivesse nascido e que se sacrificaram para ela estar viva ali.
Em um instante seus olhos refletiam o azul do céu e se formava, na superfície dos olhos, pequenas e imperceptíveis nuvens brancas que condensavam e faziam verter lágrimas feitas de pura água que escorriam pela face dos homens em forma de gotas refletindo o céu azul, o mesmo céu que os olhos refletiam.

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