sábado, 21 de julho de 2007

Monitor, monitor meu...

Estamos sediando os Jogos Panamericanos, competição que ocorre de tempos em tempos, mas há outros jogos que ocorrem diariamente, em casa, na escola, no trabalho, nas calçadas e no mundo virtual que envolvem homens e mulheres e que fazem parte dos jogos de sedução.
Em situações bem específicas como nos chats e fóruns da Internet, por exemplo, cada sexo faz o seu marketing para vender a si, o seu produto e atrair o sexo oposto - o seu consumidor - com uma linguagem adaptada a esse moderno meio. Com a liberação dos costumes e o pseudo anonimato da rede fala-se mais de sexo, gostos e preferências facilitando a divulgação deles.
Homens são atletas sexuais, não ficam em uma por noite, dão mais, seu instrumento é grande e poderoso, sempre maior que os dos seus competidores. As mulheres lêem e ouvem o que eles gostam, preferem o que eles gostam, querem e usam muito bem o que aprendem sobre eles, montam estratégias de sedução baseadas nisso. Elas gostam de sexo anal, fazem sexo oral e engolem tudo, estão sempre dispostas a transar, tomam iniciativa, tem desejo sexual igual ou maior que o seu homem, decotes generosos e bundas salientes e por aí vai. Eles, ativos nas conquistas, elas, passivamente seduzindo e conduzindo a dança.
Cada pessoa entra em chats e fóruns para saciar as suas necessidades: obter atenção, ser admirado, paparicado, receber elogios por sua performance, despertar o desejo dos outros, ter alguém com quem compartilhar seus dramas, buscar respostas para dilemas que ainda não pode resolver, se alimentar desse grande espelho virtual e apagável que é a Internet escondido por detrás de um apelido que permite projetar nele o que quiser ser e obter dele a resposta que melhor lhe convier, porque no mundo virtual é fácil manipular o outro, sem o olho no olho e com o monitor aceitando tudo a Internet virou a responsável pela felicidade etérea de muitos que se assustam com a crueldade do mundo real que cobra caro pelo que somos ou dizemos ser. Melhor deixar que a felicidade construída por bits de prosa domine, nem que seja por instantes para dar um gostinho de prazer, mesmo que frio e descartável. Para muitos bem melhor que a dureza do mundo real.

domingo, 15 de julho de 2007

Dois Sonhos.

Minha filha pediu para dormir comigo a noite que passou. De manhã acordei e passei minha mão pelos cabelos dela, ela acordou e disse:
- Espera, pai... tô sonhando, um sonho legal...
Ela continuou a dormir e eu a observá-la, linda, e a sonhar acordado com a filha que amo.

sábado, 7 de julho de 2007

A Deusa.

Uma mulher perfeita em todos os aspectos: bela, alta, corpo bonito, desejada pelos homens. Personalidade madura, bem resolvida. Mulher contemporânea, viajada, que sabe o que quer e o que não quer. Sem defeitos, sem joanete, mau hálito, celulite, estrias, olheiras, espinhas. Sem medo, vergonha, repressão sexual. Nunca levou um fora, não se arrepende de nada que tenha feito ou deixado de fazer. Sem problemas financeiros, afetivos, existenciais ou espirituais. A mulher que todas as mulheres queriam ser e todos os homens queriam ter. Uma deusa sobre a face da Terra, como tal, adorada por muitos e idolatrada, fazia juz a uma religião, ter a sua imagem cultuada e suas palavras escritas em um livro sagrado.
Mas como nem tudo é tão perfeito assim, nem mesmo na fantasia mais desejada, ela permaneceu no seu Olimpo imaginário, isolada de seus adoradores que, por mais que a desejassem jamais a tocariam, pois esse Olimpo era inatingível para eles, mortais, e de lá ela nunca sairia porque seu amor próprio era tão próprio que não a permitia sequer ver os mortais, e viveu condenada à solidão de sua perfeição, como uma deusa que habita o nosso imaginário e que nunca deixará de ser um produto da nossa imaginação, pois não suportaríamos a decepção de saber que a nossa deusa perfeita não passava de alguém tão limitado quanto a nossa própria insignificância.