domingo, 11 de dezembro de 2011

Tri-álogos do dia-a-dia.

Senhora:
-Preciso de uma antena.
Eu:
-Antena interna ou externa?
Senhora:
-Não sei. Comprei uma TV nova de LSD...
Eu:
-Aham. Por aqui, senhora, por favor...

Tri-álogos do dia-a-dia.

Aponto a peça no mostruário e o cidadão manda ver:
-Tem uma mais grande?
Eu:
-Não.

Tri-álogos do dia-a-dia.

Cidadão:
-Onde fica essa tal loja?
Eu:
-"Quinta loja em direção ao Viaduto Obirici". Apontando para o local.
Cidadão:
-Viaduto? ... Ah, a ponte!
Eu:
-É.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Aromas e Matizes da Vida.




 Quarenta e tantos anos de idade. Ela vivia só, na monocórdia companhia de sua gata e uma perspectiva de vida que olha mais para o passado do que para o futuro.
Solidão, príncipes que se revelaram sapos de coaxar desafinado, família ausente, vizinhos fuxiqueiros e colegas de trabalho puxadores de tapete. Vivia com a sensação de que a vida lhe havia escapado por entre os dedos.
Hábitos rígidos: casa sempre arrumada, janelas fechadas, gata que saía à noite e voltava de dia, diversos relógios pela casa, todos com a hora precisamente ajustada até os segundos. Sua alma também era rígida, na angústia, desesperança, rabugice que alvorecia e um mau humor persistente.
A vida dela se resumia a ir trabalhar e o prazer da companhia de sua gata.
Naquele dia, a gata não havia retornado para casa ao amanhecer. Ouviu, pela janela, o comentário de vizinhas que viviam bem informadas que um gato havia sido atropelado na sua rua, um pouco mais acima de onde ela morava. Coração disparou, suou frio nas mãos e retornou a velha sensação de que iria morrer ali, sozinha, sem, ao menos, a companhia da gata. Reviveu a sua vida em instantes e nada de regozijável lhe veio à mente. Não tinha tempo para luto felino ou autocomiseração. Vestiu-se, tomou café, mecanicamente, e rumou para o trabalho. Não caminhou muito e sentiu as pernas fracas, tontura. Achou que não passaria dali e teria que ser levada por populares para o hospital, ou para o cemitério.
De longe, avistou a sua gata que estava do outro lado da rua, ela a fitava insistentemente. Com dificuldade, atravessou a rua para pegá-la, ela fugiu e entrou em uma loja de aromas exóticos e cores estranhas. Dentro daquela loja, que oferecia solução para os seus problemas, ela percebeu que, sozinha, jamais sairia da armadilha de vida que ela armou para si, nem que fosse uma gata para lhe mostrar que, na vida, há outros aromas e matizes que não apenas aqueles que permitimos entrarem pelos nossos sentidos.
O sentido da vida é, por vezes, não ter sentido nenhum ou o sentido é procurar o sentido a vida toda.

domingo, 25 de setembro de 2011

Ele Sabe Por Que Os Pássaros Voam.




Alguns pássaros voam em círculos ou em uma trajetória errante no céu. Não fazem por acaso e não estão apenas aproveitando as correntes de ar ascendentes. Crianças curiosas olham para o céu e vêem mais do que pássaros em vôo.
O menino observava os vôos dos pássaros, tinha uma capacidade singular de interpretar as manobras como se fossem mensagens. Quando menor, tentou explicar aos outros meninos e aos adultos do que era capaz, foi ridicularizado pelos primeiros e ignorado pelos últimos.
No caminho entre a casa e o colégio olhava para o céu, ansioso pelas mensagens que os pássaros enviavam, quando jogava bola com os amigos chamavam a atenção dele para o jogo, constantemente, de tanto que olhava para cima. Era considerado um menino que vivia no mundo da Lua por olhar tanto para o céu e se desligar da Terra.
Os pássaros desenhavam mensagens no céu todos os dias, conselhos sobre a vida, orientações sobre como o menino deveria agir, avisos de perigo e mensagens de apoio e ajuda. Algumas mensagens eram incompreensíveis, talvez mensagens destinadas a outras crianças que, como ele, possuíam a capacidade de entender o que significavam os vôos e que precisavam ser auxiliadas e orientadas em suas vidas.
Em casa, o menino teve que encarar uma situação difícil, seus pais estavam se separando, cada um moraria em uma casa e ele teria de decidir com qual dos pais viveria. Decisão difícil para quem pensava que a vida é brincar, comer e dormir, provação para o mundo dos adultos, não para ele, não naquela idade.
Resolveu olhar mais ainda para o céu no dia seguinte, quando teria que optar por viver com um dos pais. Foi e voltou para o colégio olhando para o céu. Nada de pássaros. Jogou bola à tarde como sempre fez, sem pássaros, sem vôos, sem gols. À noite sentiu-se abandonado, triste e desorientado sem as mensagens dos pássaros. Brigas em casa, pais incapazes de pensar nele, só em si mesmos. A decisão com quem morar estaria a cargo dos pais ou do acaso, tanto faz, estava sem condições de pensar no assunto. Dormiu.
Acordou cedo com raiva dos pássaros, o ajudavam tanto, porque, agora, o abandonaram quando precisava, sem uma mensagem, ainda que incompreensível? Os amigos e os adultos estavam com a razão? Os pássaros só voavam no céu?
Sábios, os pássaros não emitiram nenhuma mensagem no dia anterior ao da decisão. Foi uma lição. Um menino, ainda que jovem e inexperiente, precisa saber que a vida não é fácil como ele gostaria, há decisões duras nela, nem sempre há tempo e recursos para tomá-las com sabedoria. A vida é desgastante e solitária, só de vez em quando aparece uma mão amiga estendida para nos ajudar. A vida é, também, grande, azul e transformável como o imenso céu onde os pássaros escrevem suas mensagens, cabe a nós escrever, lá em cima, o nosso destino e optar por voar ao lado dos pássaros e entendê-los, ou observá-los, debaixo, pensando que são apenas pássaros voando.

A Reencarnação do Bode 2.


Texto revisado e alterado conforme sugestões dos colegas da Oficina de Iniciação à Prosa.




Ele foi contratado para a vaga de estoquista em uma empresa com cinquenta funcionários. Quase sessenta anos de idade, barriga saliente, calvo. No emprego anterior trabalhava sentado em um escritório. Os colegas estranharam a contratação de uma pessoa de idade para estoquista, naquela empresa, a função requeria esforço físico, carregar caixas pesadas, levantá-las e baixá-las no braço. Ele se adaptou com dificuldade ao trabalho pela demanda física. Era solícito e afável, sempre pronto a resolver todos os problemas do trabalho, inclusive aqueles que não eram sua função resolvê-los.
Rápido se tornou vítima de intrigas e era culpado pelo que não havia feito. Afinal, não reclamava de nada, não fazia queixas aos superiores, complacente, acomodado, figura preferida na empresa para receber a culpa por todos os erros do quadro de funcionários.
Houve um erro grande na empresa que levou à demissão dele ao final do período de experiência. Muitos colegas lamentaram, pois era boa pessoa e colega, outros, ficaram aliviados por se livrarem de um estorvo, alguns ficaram preocupados em encontrar um novo responsável pelos seus velhos e reincidentes erros.
Na reunião habitual, uma surpresa, o colega estoquista recém demitido estava presente, vestido de terno e gravata com o mesmo ar sereno e doce que todos estavam acostumados a ver no semblante dele. O Diretor da empresa, logo no início da reunião, acabou com a curiosidade de todos sobre a presença do ex-colega, explicou que ele havia sido readmitido como o chefe do Departamento De Pessoal da empresa, o período de experiência de três meses foi um truque para que o futuro chefe do Pessoal conhecesse a empresa, sua cultura e, principalmente, os funcionários, suas peculiaridades, personalidades, quem era bom, quem era ruim, quem trabalhava, quem fingia trabalhar, quem era a jararaca do setor, o burro, a lesma, a anta e o cavalo.
Aquele dia foi o último na empresa para alguns funcionários, para outros, dia de promoção, para um desafortunado, em especial, o dia que foi colocado, sem saber e sem saberem, no papel do novo bode expiatório da empresa.
No zoológico do trabalho, o melhor é ser o tratador dos animais.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

A Reencarnação do Bode Expiatório.





Ele foi contratado para a vaga de estoquista em uma empresa com cinquenta funcionários. Quase sessenta anos de idade, barriga saliente, calvo. No emprego anterior trabalhava sentado em um escritório. Os colegas entranharam a contratação de uma pessoa de idade para estoquista, naquela empresa, a função requeria esforço físico, carregar caixas pesadas, levantá-las e baixá-las no braço. Ele se adaptou com dificuldade ao trabalho pela demanda física. Era solícito e afável, sempre pronto a resolver todos os problemas do trabalho, inclusive aqueles que não eram sua função resolvê-los.
Rápido se tornou vítima de intrigas e era culpado pelo que não havia feito, afinal, não reclamava de nada, não fazia queixas aos superiores, complacente, acomodado, figura preferida na empresa para receber a culpa por todos os erros do quadro de funcionários.
Um erro grande e fatal na empresa, ele, por consenso, era o suspeito – de todos - dos colegas de setor à direção. Incapaz de se defender acabou sendo demitido ao final do período de experiência pelos erros a ele atribuídos. Muitos colegas lamentaram, pois era boa pessoa e colega, outros, ficaram aliviados por se livrarem de um estorvo, alguns ficaram preocupados em encontrar um novo responsável pelos seus velhos e reincidentes erros.
Na reunião seguinte de todas as segundas às 8h da manhã, uma surpresa: o colega estoquista recém demitido estava presente, vestido de terno e gravata com o mesmo ar sereno e doce que todos estavam acostumados a ver no semblante dele quando era estoquista na empresa. O Diretor da empresa, logo no início da reunião, acabou com a curiosidade de todos sobre a presença do ex-colega, explicou que ele havia sido readmitido como o chefe do Departamento De Pessoal da empresa, o período de experiência de três meses foi um truque para que o futuro chefe do Pessoal conhecesse a empresa, sua cultura e, principalmente, os funcionários, suas peculiaridades, personalidades, quem era bom, quem era ruim, quem trabalhava, quem fingia trabalhar, quem era a jararaca do setor, o burro, a lesma, a anta e o cavalo.
Aquele dia foi o último na empresa para alguns funcionários, para outros, dia de promoção, para um desafortunado, em especial, o dia que foi colocado, sem saber e sem saberem, no papel do novo bode expiatório da empresa.
No zoológico do trabalho, o melhor é ser o tratador dos animais.

domingo, 4 de setembro de 2011

Prólogo Do Filme "Anticristo".



A corda imaginária está esticada, Eros oposto a Tánatos.
A água cai, molha os corpos nus. Desejo. A neve cai. Fria.
Enquanto o amor acontece, há dor, tristeza e desespero, multivalências encobertas pela necessidade, desejo e angústia. E não basta o amor penetrar no outro, ele, mesmo assim, permanece, só, com sua maldição.
Enquanto o mundo gira, a roupa gira na máquina de lavar, o relógio gira, a roda gigante gira, amor e morte se constroem, se desenvolvem e acabam, como uma vida recém reproduzida, como o fim de tudo.
Tempo paralisado, congelado em emoções. Um pequeno corpo se movimenta. Quanto tempo demora para alguém se dar conta? E como se conta o tempo? Quando do prazer, o tempo se refugia no nada.
O amor é intolerável e o desejo insaciável, busca uma janela para fugir e satisfazer. A vida é onipotente, nem a dor, a tristeza e o desespero podem com ela. Melhor que a vida é a possibilidade do que há além dela. Sem freios, a felicidade é uma possibilidade tão próxima quanto o ar que respira, tão inalcançável quanto ela mesma.
A neve do chão sobe, o prazer atinge o limite. Fim
A corda imaginária se rompe, nem Eros, nem Tánatos, nem vida, nem morte, só alguém.


sábado, 3 de setembro de 2011

Tocou O Sinal Para O Recreio.

Olha, vou ser bem sincero, não gostei dos meus textos escritos como exercícios para a Oficina. Os argumentos estão razoáveis, tem um ou outro mais criativo, o problema está no desenvolvimento deles. Escrevo de forma óbvia, previsível e formal, pareço um trem que nunca sai dos trilhos, que não se aventura por outras terras, serras, planícies, praias, que não experimenta parar em outras estações e ainda é movido à carvão, ou, talvez, eu escreva como um cavalo de padeiro que já sabe de cor o caminho para entregar o pão, o padeiro só precisa mandar ele andar ou parar.
Para que eu escreva algo melhor de se ler é preciso, primeiro, desconectar o texto da minha personalidade, porque escrevo da forma que eu sou, devo deixar o formalismo e o rigor fora do texto, acrescentar ginga, aleatoriedade, umas palavras menos sisudas, fugir um pouco da realidade fria, não me preocupar com o perfeccionismo que me persegue como o trem ou o cavalo do padeiro.
Outra coisa: preciso escrever como se estivesse brincando, com sorriso nas mãos, alegria, desprendimento, sem preocupação com crítica. Escrita livre, refletindo meu pensamento. Tenho que usar o que aprendi na Oficina e fazer o tema de casa na hora do recreio.
E que esse seja o último texto que faço vestindo smoking.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Oficina "Iniciação à Palavra em Prosa". Exercício N°2.


Exercício a partir de bilhetes encontrados na rua.

 Código de Barras.



Velhinha, mais de 70 anos de idade, escorregou e caiu em casa, fraturou o fêmur e está impossibilitada de andar. Tem uma netinha de quem gosta muito e é recíproco o amor. Gosta de pé de moleque, viu no panfleto do supermercado que havia uma promoção com pé de moleque barato, pegou um pedaço de papel, anotou o pedido: pé de moleque, 260g e o número que fica abaixo do código de barras 78911030488494, entregou à neta e pediu a ela que fosse ao supermercado comprar.
Duas horas depois, já de volta do super, a neta, constrangida, disse à velhinha que não havia encontrado o pé de moleque, na loja que havia dentro do supermercado só havia meias para pés até o número 43 e não para aquele pé com um número tão grande: 78911030488494.




Balancete.

(Anotação encontrada no chão, após dois dias de chuva, bordas carcomidas e papel poído pela ação do clima, ainda assim, a tinta estava intacta.)


A vida lhe foi generosa durante anos, tudo do bom e do melhor, sem se preocupar com quanto ela custava.
Dias ruins se seguiram, novo emprego ganhando menos, doenças na família, gastos acima do suportável. A vida financeira virou um caos, tudo tinha que ser controlado, não sobrava grana para quase nada. Para fazer o super, uma calculadora determinava o limite, ao chegar em casa, contas para ver o quanto ainda lhe restara de dinheiro.
Como prova de anos mais gordos, havia uma caneta, cara, tinta boa. Um bilhete seu havia sido encontrado no chão por um gaiato, depois de ter passado dias, ali, recebendo chuva e vento, ainda assim a tinta da caneta se mantinha intacta, mostrando os números de uma conta financeira simples.
Assim como a sua caneta era boa, reminiscência de tempos melhores, ele mantinha em seu poder, conhecimento, inteligência e experiência, lastros valiosos que lhe permitiriam, novamente, ascender na vida e poder usar sua caneta para preencher documentos mais importantes e decisivos, fechar negócios que lhe proporcionariam uma vida bem melhor que a atual.

domingo, 21 de agosto de 2011

Oficina "Iniciação à Palavra em Prosa". Exercício N°1.

Vou usar o blog para publicar meus textos de exercício da Oficina de prosa que me referi no post anterior, podem ficar sem nexo porque a tarefa não está explicada, será um laboratório de textos, tipo uma cozinha, cheia de ideias, pratos sujos, cheiros apetitosos e chamas acesas.

Textos criados com base em material recebido na Oficina.


Canhoto do Cheque.
Ele está dividido entre dois amores que aniversariam nesta semana, resolveu dar um presente a cada uma delas, simples, tocante. Queria que a compra, a entrega e o recebimento do presente ajudassem na difícil escolha por qual amor optaria.
Foi à uma grande loja de departamentos, daquelas que tem de tudo, procurou, escolheu, comprou. Dois presentes. Pagou por eles com um cheque R$ 82,50. Anotou no canhoto do talão: lotérica, porque queria fazer segredo da compra, afinal, daquela loja sairia seu maior prêmio.

Recibo FGTS.
Assustado, com pressa. Ele estava trocando de emprego. Inseguro, temia que se arrependesse, não se adaptasse ao novo emprego ou que a nova empresa não o quisesse após o período de experiência. Amigos se dividiam entre apoiar a mudança ou criticá-la, chegou ao terminal da Caixa Econômica para ver se estava disponível o pagamento do FGTS relativo à saída do antigo emprego, acordo feito com o antigo patrão. Recebeu o papel impresso pelo terminal e leu: "Não Existe Pagamento Disponível", agradeceu ao frio terminal computadorizado porque ainda restava uma ligação, frágil, com o antigo emprego, quem sabe não seria o caso de voltar a trabalhar lá?

Cupom do Estacionamento.
Havia passeado no shopping durante o final de semana, lá, perdeu seus documentos, ficou apavorado até que recebeu um telefonema da administração do shopping informando que seus documentos haviam sido encontrados e estavam à sua disposição para serem retirados. Estacionou seu carro no estacionamento do shopping, buscou os documentos na administração e se permitiu tomar um sorvete na praça de alimentação, simples, porém delicioso. Terminou, saiu, até que um cliente da sorveteria lhe chamou atenção, seus documentos recém resgatados na administração do shopping tinham ficado sobre a mesa, retornou, pego-os e foi embora, tranquilo, sorridente e satisfeito, já havia perdido seus documentos mais de uma dezena de vezes, mesmo, mas sorvete como aquele nunca havia experimentado.

Lista De Coisas Para Fazer.
Tanta coisa para fazer em uma só manhã de quarta feira. Ela é dona de uma empresa de eventos infantis, é bolo, decoração, local, limpeza, mais os eventos de casa: filhos pequenos para cuidar e marido que só pede e reclama e não ajuda em nada. E começou mal a quarta, lista cheia de coisas a fazer, na saída do supermercado perdeu a lista, voltou, procurou, pediu ajuda aos funcionários, nada. Sem a lista algo importante ficaria para trás, puxou pela memória, alguns compromissos lembrava, não todos, foi a última gota de lágrima que fez entornar seus olhos, voltou para casa, hoje, o marido vai ouvi-la reclamar e pedir, e ele que trate de ajudá-la.




segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Iniciação à Palavra em Prosa.

Este é o tema da oficina que a minha querida amiga Eliana Mara Chiossi dará sempre às quartas feiras, das 19h até 21h e 30min, a partir do dia 17 de Agosto de 2011 e que se estenderá até o dia 14 de Dezembro de 2011 na Casa de Cultura Mario Quintana, em Porto Alegre. Serão trabalhados textos em prosa com ênfase em conto, crônicas e artigos. As inscrições estão abertas, apressem-se, há poucas vagas e é "de grátis". Estarei lá, para a felicidade dos meus teimosos leitores, finalmente terei a oportunidade, rara, de aprender a escrever e brindar meus leitores com textos menos sofríveis, um pouco melhor escritos, legíveis e compreensíveis. O lado ruim é que aqui farei as minhas experiências com texto, o que é preocupante, pois não faço a menor ideia do perigo que isso representará à mente de quem ousar me ler de agora em diante. Oremos.

domingo, 10 de julho de 2011

Nem o Dia, Nem a Noite.

Se tivéssemos um Código Emocional, como temos o Código Penal, que relacionasse os crimes emocionais que as pessoas cometem teríamos um ou mais artigos que puniriam a simplificação da vida e das relações humanas.
Viver e se relacionar com pessoas não é fácil, não é simples, não podemos tentar fazer destas experiências algo de fácil compreensão, tentar entendê-las à luz da nossa experiência e pensar que uma ordem verbal, nossa, mudará nossa vida ou de alguém para melhor, solucionando nossos ou seus problemas.
Vida é grande, complexa, subjetiva, caótica, ilógica, humana. Errado tentar vê-la apenas como um dia se contrapondo à uma noite, cor preto ou branco, zero e um, triste ou feliz, casa ou separa, ter ou não ter filhos.
Viver é para especialista, capaz de se equilibrar em uma corda fina e bamba sendo sacudida por vento que está sempre tentando sair debaixo da pessoa, cena acompanhada por uma platéia que torce pela vitória, ou do equilibrista, ou da corda, ou daquilo que nem imaginamos haver entre os dois.

domingo, 26 de junho de 2011

Movendo Palhas.

No meu trabalho realizo pequenos gestos, vendas baratas que não passam de centavos de Real, alcanço peças pequenas que estão à minha mão. Não faço esforço, não me custa nada, não me cansa.
Na vida, gestos não são atos isolados e insignificantes, tudo está ligado de uma forma ou outra. Meus gestos, aparentemente triviais, podem representar muito a quem está à minha frente comprando, porque esta pessoa pode necessitar de uma peça pequena e barata, que faz funcionar um aparelho hospitalar que salva vidas, ou um brinquedo que entretém uma criança, ou um aparelho auditivo que faz um deficiente ouvir.
É comum receber cumprimentos exagerados por pequenos atos de venda que realizo, demorei para me dar conta do contraste que há entre o meu pequeno esforço e a enorme gratificação do cliente.
Há de se pensar no significado de cada gesto que fazemos e pensar, também, na importância que há nas nossas inúmeras pequenas omissões diárias, palhas leves que se movem apenas com um olhar e que constroem ou destoem vidas.

O Álbum de Fotografias.

Hoje abri um álbum de fotografia que não é meu. Vi pessoas conhecidas, alegres e felizes, seus semblantes me tranquilizaram e me deixaram feliz.
Fotos representam um momento passado, instante congelado. Observando com mais atenção, uma foto pode sinalizar o futuro pelas emoções que o rosto das pessoas fotografadas deixa transparecer e vi rostos confiantes, maduros, tranquilos, demonstrando que estão bem e que fizeram escolhas certas na suas vidas, sejam escolhas profissionais, sejam amorosas.
Um álbum de fotografias não é um registro histórico, apenas, vai além, é uma previsão de futuro baseada na força mais forte que há: a nossa determinação em sermos felizes e materializarmos o que queremos.

domingo, 19 de junho de 2011

É Isso Mesmo O Que Você Quer?

Uma bela família, quem ama à volta, viagem longa, carro do ano, a mais bela de todas, muita grana, mansão à beira mar, o dia todo sem fazer nada.
Muito bom, bom demais.
Desejar e satisfazer o desejo é bom, dá prazer, reconforta, sustenta o ego, anima, faz esquecer quando a vida vacila e o relógio não desperta de manhã.
Viver sem desejar não é viver, vivemos de satisfazer nossos desejos. Os que não são satisfeitos atrapalham como uma grande afta ou uma unha encravada, podem parecer pequenos e corriqueiros. Não são. Ficam lá, no fundo da alma, incomodando, pedindo espaço e tempo para serem satisfeitos. Apitam e choram, como um velho aparelho de fax que pede para ser colocado papel para funcionar, ou um nenê que chora de fome.
Nem sempre dá para enganar o desejo, pode-se fazer por breve tempo, nunca para sempre, ele insiste e volta a incomodar, exige tempo para si. Se ele não vencer, nos cobra um preço, nos tira tempo de vida, faz-nos gastar energia, tira-nos a alegria de viver e nos joga nas profundezas da depressão.
Desejo satisfeito é bom? Sempre? E o custo que isso nos traz? Vale a pena perder anos de vida por causa de um vício que nos mata aos poucos? Pelos hábitos alimentares que entopem as nossas veias? Pelo álcool que nos mata dentro do carro?
Toda satisfação de desejo tem um custo, seja para a gente, seja para quem está próximo de nós ou para o mundo, temos que ter consciência disso para não sermos um dinossauro que pisa e esmaga um inseto só para pegar a folha mais apetitosa que está no alto de uma árvore.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Beijo na Alma.

Você sabe o que é um beijo na alma?
Não? Eu vou lhe explicar:
Um beijo na alma não é como um beijo no rosto,
na boca ou em qualquer outra parte do corpo.
O beijo na alma é aquele que entra na mente
através de palavras impulsionadas pelo sentimento AMOR
Chega até o coração,
onde fica gravado com ponta de diamante.
É um beijo simples e singelo
que às vezes passa desapercebido,
mas quando encontra um coração quebrantado,
ele se torna como um manancial no deserto
É um beijo puro, genuíno, sem malícia, agradável,
afável, amigo, aconchegante, que nos traz paz.
É como se o dedo de Deus
estivesse tocando o seu coração.

Autor desconhecido

domingo, 22 de maio de 2011

O Jogo Dos Sete Erros.




Ele vivia evitando erros, seus erros.
Não imaginava cometendo-os e ficava aterrorizado quando os cometia e alguém os descobria.
Sempre tentava antever e revisar seus passos, organizando o dia, prevendo acontecimentos, escolhendo palavras que não permitissem a ocorrência de um erro ou um mal entendido.
Era preferível que ele permanecesse em cima do muro do que se posicionasse com firmeza, para não ter que correr o risco de, na sua imaginação, errar e, com isso, desagradar seu interlocutor.
Era o primeiro a admitir que errou quando alguém o questionava.
Mal sabia ele que o seu erro não acontecia de vez em quando, como ocorre com qualquer pessoa.
Seu erro, o maior deles, era viver tentando não errar.


domingo, 15 de maio de 2011

Para Ver Se Está Chovendo Basta Olhar Para Baixo.

Para observar o mundo e as pessoas não bastam apenas olhos e ouvidos.
A realidade à nossa volta é muito mais que o mundo material, os sons, cheiros e cores, viver preso só ao que se vê é não ver.
A explicação para quase tudo está naquilo que não vemos e as relações do objeto observado consigo e com o mundo.
Pessoas falam e gesticulam, se expressam de diversas formas, mas o que é dito nas entrelinhas tem muito valor, pois denunciam com mais fidelidade o que elas pensam e sentem.
Conhecer alguém vai muito além de apenas conviver, é perceber pequenas nuances, detalhes, inflexões de voz e, sobretudo, ouvir o silêncio, este fala mais e é mais eloquente que a mais enérgica e incisiva frase dita.
Para saber onde estamos no mundo é preciso observá-lo com mais atenção e método, parecido com o que fazemos para ver se está chovendo ou não, nós não olhamos para as nuvens, acima, de onde vem a chuva, olhamos para baixo, procurando ver as marcas que os pingos da chuva deixam no chão.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Letras & Grãos.

O feijão na casa do Joãozinho não era bom, um dia era amargo, outro azedo, em outro dia não tinha gosto.
Certo dia, na cozinha, Joãozinho, esbarrou no pote de grãos de feijão virando-o e espalhando grãos pela mesa. Morrendo de medo, Joãozinho logo recolocou os feijões no pote, cuidando para que os grãos ruins ficassem de fora, só recolocou os bons, bonitos e saudáveis.
Desde aquele dia, o feijão da casa do Joãozinho se tornou o melhor da região, a vizinhança queria saber qual era o segredo, e Joãozinho explicava que era bom por causa do acidente com o pote.
Quando temos algo importante a ser dito é fundamental que as letras sejam catadas como o feijão do Joãozinho, para que formem palavras com sentido, sabor, nem amargas, nem azedas, palatáveis e deglutíveis, que sejam bem entendidas e não deixem dúvidas, só alimentem curiosidade para se saber de onde vieram e se há mais delas por lá.

domingo, 1 de maio de 2011

Girassóis da Rússia.

Um bom filme não termina quando sobem os créditos, ele permanece na gente enquanto estivermos vivos, é o caso de "Os Girassóis da Rússia" (I Girasoli) de 1969, dirigido por Vittorio de Sica e estrelado por Sophia Loren e Marcello Mastroianni.
O filme conta a história de um casal apaixonado que foi separado pela II Guerra, a narração tem um ritmo perfeito para que possamos entender, absorver e refletir sobre as circunstâncias que envolvem a trama, nela, a vida se impõe com o seu poder absoluto, irrefreável, sobre o mais profundo amor e paixão que duas pessoas possam sentir uma pela outra.
A vida tem uma força infinita que, por mais que tentemos, não podemos fazer frente, é aceitar e nos adapatar a ela.
Vale assistir ao filme, nem que seja para se ter a certeza de que a vida é muito boa para ser vivida e aprendermos a respeitar sua força e vontade.









sábado, 26 de março de 2011

Seu Corpo.



Seu corpo é intransigente.
Urgente.
Impaciente.

Invade limites
Revoluciona idiossincrasias.
Destrói muralhas.

Seu corpo exala o odor viciante da transgressão.
E a apreensão do fio da navalha.

Poderoso criador de fantasias
Imaculadas e insondadas.

Seu corpo se derrama sobre o meu,
Afogando meu desejo,
E transformando o amor
Em líquido e certo.


terça-feira, 8 de março de 2011

8 de Março.

O meu desejo é que a mulher seja, um dia, respeitada, reconhecida, valorizada e amada a ponto de não precisar de um dia só para ela, onde a nossa atenção se volte para os problemas das mulheres que há muito deveriam deixar de existir.
Enquanto temos o Dia Internacional da Mulher, aqui vai meus cumprimentos e meu reconhecimento para todas as mulheres, as que conheci, a que me fez gente, e as que até hoje me fazem feliz.

domingo, 6 de março de 2011

Morreu? Quando?

Nos últimos tempos se foram duas tias, uma delas muito querida e próxima, e ninguém dos familiares me avisou das mortes.
Eu me senti mal com esta atitude, queria ter me despedido, fiquei me perguntando se as tias, em vida, gostariam ou não que eu me despedisse delas, e cada vez que me pergunto ouço "sim" como resposta. E porque motivo decidiram que eu não deveria vê-las no enterro? Todos tem lá seus motivos para esta decisão, e os lamento.
Eu tenho uma visão particular da minha morte e de como queria ela fosse tratada, embora os familiares não concordem:
Não quero ser enterrado. Não quero que meus ossinhos sejam guardados e que alguém vá lá "me ver" e que alguém gaste uma grana para mantê-los lá. Goste de mim, me odeie, ou seja indiferente a mim diga isso em vida, depois, não resolve nada.
Preferiria ser cremado e as cinzas jogadas em qualquer lugar, menos no lixo porque a companhia lá não é muito agradável.
Resumindo. Pensem assim: foi legal ter convivido com o Mauro, agora acabou e devo seguir a minha vida, ser feliz e lembrar dele da forma que eu quiser, ou não.
Acalmem-se, não estou de partida, é só um mini testamento para quando eu pegar meu boné e ir.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

O Polifaces.

Uma opinião sobre um assunto, hoje, amanhã muda, semana que vem nem opinião tem mais.
Há pessoas que não mantém uma coerência na sua forma de pensar e agir. Sei que ser humano é ser ilógico, confuso, instável, mutável, porém não como o vestir/desvestir de uma roupa.
Alguns sentimentos e ideias não permitem mudança frequente, é como se tivéssemos uma Constituição interna que resguardasse os nossos paradigmas e a seguíssemos, até que um fato maior a fizesse mudar. E aí o cidadão muda, revela não sentir o que dizia sentir, sem relação nenhuma com a realidade externa e total relação com a sua confusa realidade interna.
Prefiro não me relacionar com estas pessoas e me afasto, não me fazem bem, me deixam inseguro, desconfortável e perdido, prefiro a amizade de pessoas mais estáveis, confiáveis e seguras.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Vendo Através da Janela.

Ele obteve nota máxima em Redação no ENEM, escreve bem melhor que o pai que, até hoje, só obteve nota zero, com louvor, em Redação nos vestibulares que prestou.
Os textos ainda estão meio duros, como um corpo que recém acorda, está faltando a eles umas pitadas de humor, jovialidade, suíngue e gírias tri legais.
Aperta o dedo aí e espie o que ele vê fora da janela.

sábado, 15 de janeiro de 2011

O Consertador de Vibrador.

Essa eu vi e ouvi.
Um casal. Ela loira, blusa aberta nas costas, ele vestido com calça jeans e camisa social, ambos aparentando uns quarenta anos de idade.
Foram atendidos por um colega no balcão da loja. Ela estendeu a mão e pediu a ele que consertasse um pequeno suporte com três pilhas palito dentro, coisa rápida, um fio solto, um pingo de solda e resolvido.
O colega terminou o breve serviço e perguntou à loira como poderia testar o suporte recém consertado. Sem cerimônia, ela abriu um misterioso e amedontrador saco preto, retirou um vistoso vibrador cor de rosa com bolinhas cromadas por fora, apontou a "arma" para o colega e disse para ele testar. O colega amarelou, deu um sorriso envergonhado e passou a vez para a loira, ela colocou o suporte com as pilhas na geringonça e ligou, abriu um sorrisão e disse:
-Obaaa, funcionou!
Meu colega teve problemas em casa quando contou o fato,  parece que a esposa não gostou da boa ação, desde então ele é conhecido no bairro como o Consertador de Vibrador, posso dar o aval que poucos conhecem a engenhoca como ele...

O Vendedor de Coisinhas.

Homem anacrônico, do século passado, uns sessenta anos de idade, profissão: vendedor de coisinhas.
Partia todos os dias da sua casa em direção a um bairro distante, mala grande e cheia de bugigangas, de utensílios domésticos a primeiros socorros, barbantes, percevejos, brinquedinhos de criança.
Onde percebia uma aglomeração de gente ou casas habitadas, parava, tocava seu apito, abria a mala grande e espalhava as quinquilharias ao redor.
Um dia uma menina com rosto de menininha se aproximou da mala aberta e perguntou quanto custava uma caixinha pequena que cabia na palma de sua pequena mão, o vendedor disse:
-Esta não tem preço, você a quer?
-Sim, respondeu a menina.
-Toma, é sua, disse o vendedor.
-Quanto custa? Perguntou a menina.
-Nada, essa caixinha eu não vendo, disse o vendedor.
-Porque? Perguntou intrigada a menina.
Então o vendedor abriu um sorriso e disse:
Essa caixinha eu não vendo, eu dou, porque dentro dela está meu coração.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Condensações.


Ela não avisa que aparecerá
Eu a  procuro, 
Mesmo assim.

Não tem forma
E a altera toda a hora.
Me molda.

Poderosa,
Cria e destrói.
Fico pequeno diante dela.

Cria raios,
Os obstrui e os projeta.
Me ilumina e me escurece.

Some para esquentar,
Aparece para esfriar.
Me deixa febril.

Estronda aos clarões 
E me surda.

Frágil,
Dispersa ao vento.
E me leva embora
No meu olhar saudoso
Do que não vi e do que um dia não verei.